Em setembro de 2008, a quebra de agências de crédito e seguradoras dos Estados Unidos deixou ás claras a crise financeira. Esta crise é um reflexo de uma crise mais ampla do sistema capitalista, que combina dimensões ambientais, éticas, econômicas e políticas.
O crescimento econômico mundial vinha se mantendo sobre a base do consumo das famílias, sobretudo dos países do norte, em especial dos Estados Unidos. O crescimento do consumo, no entanto, não se dava em função do aumento dos salários, mas através do crescente endividamento. As famílias contraíram empréstimos bancários, hipotecando suas casas, que tinham preços artificialmente altos, para manter seus consumos elevados, não só de inutilidades como também de serviços essenciais, os quais o Estado não garantia por meio de políticas públicas, como de saúde. Quando os preços imobiliários começaram a se ajustar aos preços reais, várias instituições financeiras decretaram sua falência, por um lado, porque ainda assim famílias não tinham como pagar os empréstimos e por outro porque o valor das casas estava abaixo do valor emprestado.
Os governos dos Estados Unidos, Inglaterra e França começaram a injetar milhões nos bancos privados em uma enorme operação de socialização das perdas. Os bancos, no entanto, não foram totalmente nacionalizados e os controles são mínimos, as famílias que perderam suas casas hipotecadas não foram consideradas, ou seja, o lucro continua privado e concentrado nas mãos de poucos. A falta de crédito e da chamada “confiança do consumidor”, começaram a atacar a economia real. Os estoques estão altos, as empresas dão férias coletivas ou fazem demissões em massa. Os governos injetam recursos em empresas automobilísticas sem exigências de contrapartidas. As demissões continuam, assim como, as propostas de retirada dos direitos trabalhistas.
As tentativas de fazer com que os pobres paguem pela crise no se concretizarão sem resistências. Entretanto, a crise se assenta em um mundo marcado pela criminalização da pobreza e dos movimentos sociais e por intervenções armadas e violentas de fortes contra fracos, além da saída, sempre útil para os atores (donos) do capital, de dividir o trabalhadores, o que se traduz no crescimento da xenofobia, da violência contra imigrantes e das disputas por território apresentadas como conflitos étnicos.
Do ponto de vista econômico, governos e empresas esboçam a intenção de lançar novamente investimento e crescimento com o uso de tecnologias verdes (substituição de frotas de veículos, construção de infra-estrutura para captação de energia fóssil etc) e a mercantilização da natureza (venda de créditos de carbono, por exemplo).
Do ponto de vista político, o G8, o grupo dos 7 países mais industrializados do mundo mais a Rússia, amplia-se pra o G-20, incorporando os países considerados emergentes, tais como o Brasil, Índia e China. A reunião do G-20 realizada em Washington, em dezembro de 2008, não teve resultados alentadores. Seguem receitando os mesmo remédios que causaram o mal vivemos hoje: mais livre comércio, mais desregulamentação.
Por isso, os movimentos sociais convocam um dia de manifestação contra as medidas propostas pelo G-20 para o próximo 28 de março, às vésperas de sua próxima reunião em Londres. Nosso desafio, como movimentos sociais, é propor soluções que respondam às necessidades concretas das pessoas que perderam seus trabalhos, casas ou que viram diminuir seu acesso a alimentos e, ao mesmo tempo, apontem para uma nova ordem. Entre essas se destacam:
A redistribuição da riqueza entre as classes sociais, entre as mulheres e homens, entre etnias e sociedades. O aumento dos salários e rendimentos de trabalhadores e trabalhadoras permitirá que o consumo popular funcione como um motor do crescimento em substituição do super-endividamento. Há também a proposta de uma renda mínima mundial e um teto para os rendimentos de modo que a enorme desigualdade de renda diminua.
Desinflar o capital financeiro: nacionalizar os bancos, favorecer cooperativas de crédito, realizar auditorias e renegociações das dívidas públicas, acabar com os paraísos fiscais.
A democratização do Estado e das empresas, com participação e controle popular e a garantia de políticas públicas. Liberdade de organização, igualdade e solidariedade.
Além disso, consideramos a necessidade urgente de superar a destruição ambiental causada pelo modelo de produção e distribuição e pelas guerras. Nossas propostas são no sentido de afirmar a Soberania Alimentar e Energética, de fortalecer a agricultura camponesa, a pesca artesanal, os mercados locais e o questionamento do padrão de consumo, o que implica a diminuição do consumo dos ricos e a melhora das condições dos pobres.
Boletim da MMM Internacional - VOL.12 NÚMERO 1 - MARÇO 2009
26.3.09
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