O neoliberalismo se impulsionou como ideologia em resposta a crise de crescimento do capitalismo dos anos 70/80. Cristalizou-se nas recomendações – na realidade imposições – do Consenso de Washington, que incluía cortes de gastos públicos, desregulamentação e abertura de mercados.
Serviços públicos como saúde, educação e distribuição de água foram privatizados. O fato de que esses gastos desapareceram dos orçamentos governamentais não significava que as pessoas passaram a precisar menos desses serviços, mas que eles deveriam ser comprados ou providos por meio do sobre- trabalho das mulheres.
Inúmeros grupos de mulheres relatam como as políticas de ajuste estrutural só foram possíveis porque elas, individualmente nas suas famílias ou coletivamente em suas comunidades, assumiram os trabalhos de cuidado em condições ainda piores. Ao mesmo tempo que as mulheres passaram a ter um trabalho remunerado, o que lhes permitiu uma relativa autonomia econômica, elas se davam conta de que eram maioria no trabalho precário, informal, com jornadas parciais e com menos direitos.
As mulheres vão dormir mais tarde e levantam mais cedo para poder fazer todas as tarefas do lar, no trabalho, no cuidado da família. E multiplicam o tempo quando trabalham em seus próprios domicílios, fazendo várias atividades ao mesmo tempo. Estes são exemplos de como as mulheres tem pagado a conta do ajuste neoliberal.
E desta vez? Durante os últimos anos, as mulheres vêm chamando atenção para uma crise do modelo de reprodução social. O tempo das mulheres é a variável de ajuste para que dimensões incompatíveis possam se encaixar na lógica das empresas de maximizar o lucro e o bem-estar das pessoas. A sociedade não se organiza para que as mulheres e homens dividam as tarefas de cuidado e o Estado assegure políticas públicas, tais como creches para as crianças, restaurantes e lavanderias coletivas. O mercado oferece falsas soluções para a questão: alimentos industrializados e empregos domésticos.
Em Janeiro deste ano, supermercados da Grã Bretanha divulgaram números que apontam para redução de 50% na venda de alimentos pré-preparados e igual crescimento na venda de ingredientes de base. Poderíamos festejar o consumo de menos embalagens plásticas e aditivos químicos. Mas este novo hábito está implicando em outra negociação nas famílias para que todos se envolvam no preparo dos alimentos?
Até o momento, as notícias sobre as demissões em massa se concentram em setores industriais e da construção civil, onde a maioria dos trabalhadores são homens. Na Espanha, intensificaram-se as demissões no comércio e no setor hoteleiro. A desocupação das mulheres será considerada com a mesma relevância? Nos países onde existem políticas de seguro desemprego, com o caso do Canadá, estas passaram a incluir as trabalhadoras intermitentes ou como jornada parcial?
Também devemos estar atentas a como as respostas à crise se relacionam com uma ofensiva moral conservadora contra autonomia das mulheres, a persistência da violência sexista e a utilização do corpo das mulheres como botim de guerra.
Nós mulheres não vamos pagar por mais esta crise. Afirmamos nossas lutas por garantia de emprego, aumento real dod salários, serviços públicos de educação, saúde e apoio a reprodução social. Queremos acesso a crédito barato, apoio a economia solidária e a pequena produção. Reivindicamos políticas de prevenção e combate a violência doméstica, cortes nos gastos militares, entre outras medidas urgentes.
Boletim da MMM Internacional - VOL.12 NÚMERO 1 - MARÇO 2009
26.3.09
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