27.3.09

Fora machismo da universidade!

Hoje, existe uma idéia que sugere que as mulheres já conquistaram tudo o que queriam e que não existe mais o machismo. Infelizmente, essa não é a realidade que permeia nossas vidas. Nós, mulheres, ainda somos educadas e destinadas ao papel do cuidado, do ambiente doméstico, do ser meiga e delicada. Contrapondo-se ao que é colocado aos meninos, somos construídas socialmente como o sexo frágil e isso se reflete em todas as relações pessoais estabelecidas, inclusive na universidade. Encaminhamo-nos para cursos que se assemelham ao nosso papel exercido na sociedade, ainda recebemos salários mais baixos, mesmo exercendo funções iguais aos homens, não temos direito de exercer nossa sexualidade com autonomia e ocupamos pouco os espaços de poder. Somos controladas, sem perceber, pela mídia, pelos governos, pelo sistema econômico atual.
Precisamos combater as bases que estruturam nossa opressão e devemos nos organizar nos movimentos sociais para protagonizar a luta pela igualdade de gênero. Para planejar e dar continuidade a nossa intervenção, a União Nacional dos Estudantes (UNE) convoca todas as estudantes ao III Encontro de Mulheres Estudantes da UNE, a acontecer nos dias 1, 2 e 3 de maio, em Belo Horizonte – MG. Para esse Encontro, a Kizomba organizará, junto com outras entidades estudantis, o I EME da Bahia, em abril, e contamos com a participação das universitárias baianas. Chega das amarras que nos calam e diminuem. Fora machismo da universidade!

Contatos:
Joanna - Diretora de Mulheres da UEB: 71 9122-4789 joannaparoli@hotmail.com
Liliane - Diretoria de Cultura da UEB: 71 8813-1252 liliane@gmail.com

Carta Convocatória ao III EME – Encontro de Mulheres Estudantes da UNE

As mulheres transformando a universidade!

O 57º Conselho de Entidades Gerais da UNE, realizado durante os dias 21 e 22 de março, nacidade de São Paulo, convoca todas as estudantes brasileiras para a realização do III Encontrosde Mulheres Estudantes da UNE (EME), a acontecer no período de 1º a 3 de maio, em BeloHorizonte.

O EME teve sua primeira edição em 2005, a partir da iniciativa da Diretoria das Mulheres da UNE, com base na necessidade das estudantes combaterem as diversas manifestações de machismo que ocorrem cotidianamente em suas universidades. Após dois anos, a segunda edição do encontro, que contou com cerca de 400 estudantes, evidenciou a consolidação desse espaço como fundamental para discutir e traçar ações que denunciem as opressões vividas pelas mulheres estudantes e para construir uma agenda que rompa com essa situação.

No dia 4 de abril lançaremos a campanha “As mulheres transformando a Universidade” na cidade do Rio de Janeiro, desencadeando o processo de debates sobre o feminismo nas universidades e mobilização para EME. A terceira edição do Encontro será parte dessa campanha, organizada pela UNE para o próximo período.O Encontro será um espaço privilegiado para a construção de propostas voltadas para o âmbito da universidade – a necessidade de uma política de assistência estudantil que contemple as estudantes (como por exemplo as creches, acompanhamento de saúde, etc.) e de currículos que levem em conta as questões de gênero, além de pensar os desafios das estudantes trabalhadorase a luta por uma educação não-sexista.

A campanha pela legalização do aborto, aprovada no último EME, foi importante instrumento para dar visibilidade a esse debate e denunciar a opressão e preconceito vividos pelas mulheres e a criminalização das que abortam. A partir da campanha, percebeu-se a necessidade dessa pauta ser constante nas discussões e debates dentro do movimento estudantil. Nosso desafio será a reafirmação de que não são as mulheres quem pagarão pela crise internacional, uma vez que não somos nós as responsáveis por ela, pelo contrário, sempre denunciamos que este modelo capitalista reforça as desigualdades e o machismo. Continuamos a denunciar e combater as manifestações de machismo que ocorrem durante as calouradas, trotes, nos cartazes de festas e encontros de área que mercatilizam o corpo das mulheres, reduzindo-as a estereótipos de beleza e sexualidade.

Convocamos todas as estudantes a realizarem atividades preparatórias em suas universidades e a se mobilizarem para o III Encontro de Mulheres Estudantes da UNE que será realizado nos dias 1 a 3 de maio em Belo Horizonte.

Essa luta indispensável somente será vitoriosa se construída coletivamente.

Acesse o site da diretoria de mulheres da UNE: http://mulheresnaune.blogspot.com

26.3.09

As mulheres e a crise

O neoliberalismo se impulsionou como ideologia em resposta a crise de crescimento do capitalismo dos anos 70/80. Cristalizou-se nas recomendações – na realidade imposições – do Consenso de Washington, que incluía cortes de gastos públicos, desregulamentação e abertura de mercados.

Serviços públicos como saúde, educação e distribuição de água foram privatizados. O fato de que esses gastos desapareceram dos orçamentos governamentais não significava que as pessoas passaram a precisar menos desses serviços, mas que eles deveriam ser comprados ou providos por meio do sobre- trabalho das mulheres.

Inúmeros grupos de mulheres relatam como as políticas de ajuste estrutural só foram possíveis porque elas, individualmente nas suas famílias ou coletivamente em suas comunidades, assumiram os trabalhos de cuidado em condições ainda piores. Ao mesmo tempo que as mulheres passaram a ter um trabalho remunerado, o que lhes permitiu uma relativa autonomia econômica, elas se davam conta de que eram maioria no trabalho precário, informal, com jornadas parciais e com menos direitos.

As mulheres vão dormir mais tarde e levantam mais cedo para poder fazer todas as tarefas do lar, no trabalho, no cuidado da família. E multiplicam o tempo quando trabalham em seus próprios domicílios, fazendo várias atividades ao mesmo tempo. Estes são exemplos de como as mulheres tem pagado a conta do ajuste neoliberal.

E desta vez? Durante os últimos anos, as mulheres vêm chamando atenção para uma crise do modelo de reprodução social. O tempo das mulheres é a variável de ajuste para que dimensões incompatíveis possam se encaixar na lógica das empresas de maximizar o lucro e o bem-estar das pessoas. A sociedade não se organiza para que as mulheres e homens dividam as tarefas de cuidado e o Estado assegure políticas públicas, tais como creches para as crianças, restaurantes e lavanderias coletivas. O mercado oferece falsas soluções para a questão: alimentos industrializados e empregos domésticos.

Em Janeiro deste ano, supermercados da Grã Bretanha divulgaram números que apontam para redução de 50% na venda de alimentos pré-preparados e igual crescimento na venda de ingredientes de base. Poderíamos festejar o consumo de menos embalagens plásticas e aditivos químicos. Mas este novo hábito está implicando em outra negociação nas famílias para que todos se envolvam no preparo dos alimentos?

Até o momento, as notícias sobre as demissões em massa se concentram em setores industriais e da construção civil, onde a maioria dos trabalhadores são homens. Na Espanha, intensificaram-se as demissões no comércio e no setor hoteleiro. A desocupação das mulheres será considerada com a mesma relevância? Nos países onde existem políticas de seguro desemprego, com o caso do Canadá, estas passaram a incluir as trabalhadoras intermitentes ou como jornada parcial?
Também devemos estar atentas a como as respostas à crise se relacionam com uma ofensiva moral conservadora contra autonomia das mulheres, a persistência da violência sexista e a utilização do corpo das mulheres como botim de guerra.

Nós mulheres não vamos pagar por mais esta crise. Afirmamos nossas lutas por garantia de emprego, aumento real dod salários, serviços públicos de educação, saúde e apoio a reprodução social. Queremos acesso a crédito barato, apoio a economia solidária e a pequena produção. Reivindicamos políticas de prevenção e combate a violência doméstica, cortes nos gastos militares, entre outras medidas urgentes.

Boletim da MMM Internacional - VOL.12 NÚMERO 1 - MARÇO 2009

Nós não vamos pagar por mais essa crise!

Em setembro de 2008, a quebra de agências de crédito e seguradoras dos Estados Unidos deixou ás claras a crise financeira. Esta crise é um reflexo de uma crise mais ampla do sistema capitalista, que combina dimensões ambientais, éticas, econômicas e políticas.
O crescimento econômico mundial vinha se mantendo sobre a base do consumo das famílias, sobretudo dos países do norte, em especial dos Estados Unidos. O crescimento do consumo, no entanto, não se dava em função do aumento dos salários, mas através do crescente endividamento. As famílias contraíram empréstimos bancários, hipotecando suas casas, que tinham preços artificialmente altos, para manter seus consumos elevados, não só de inutilidades como também de serviços essenciais, os quais o Estado não garantia por meio de políticas públicas, como de saúde. Quando os preços imobiliários começaram a se ajustar aos preços reais, várias instituições financeiras decretaram sua falência, por um lado, porque ainda assim famílias não tinham como pagar os empréstimos e por outro porque o valor das casas estava abaixo do valor emprestado.

Os governos dos Estados Unidos, Inglaterra e França começaram a injetar milhões nos bancos privados em uma enorme operação de socialização das perdas. Os bancos, no entanto, não foram totalmente nacionalizados e os controles são mínimos, as famílias que perderam suas casas hipotecadas não foram consideradas, ou seja, o lucro continua privado e concentrado nas mãos de poucos. A falta de crédito e da chamada “confiança do consumidor”, começaram a atacar a economia real. Os estoques estão altos, as empresas dão férias coletivas ou fazem demissões em massa. Os governos injetam recursos em empresas automobilísticas sem exigências de contrapartidas. As demissões continuam, assim como, as propostas de retirada dos direitos trabalhistas.

As tentativas de fazer com que os pobres paguem pela crise no se concretizarão sem resistências. Entretanto, a crise se assenta em um mundo marcado pela criminalização da pobreza e dos movimentos sociais e por intervenções armadas e violentas de fortes contra fracos, além da saída, sempre útil para os atores (donos) do capital, de dividir o trabalhadores, o que se traduz no crescimento da xenofobia, da violência contra imigrantes e das disputas por território apresentadas como conflitos étnicos.

Do ponto de vista econômico, governos e empresas esboçam a intenção de lançar novamente investimento e crescimento com o uso de tecnologias verdes (substituição de frotas de veículos, construção de infra-estrutura para captação de energia fóssil etc) e a mercantilização da natureza (venda de créditos de carbono, por exemplo).

Do ponto de vista político, o G8, o grupo dos 7 países mais industrializados do mundo mais a Rússia, amplia-se pra o G-20, incorporando os países considerados emergentes, tais como o Brasil, Índia e China. A reunião do G-20 realizada em Washington, em dezembro de 2008, não teve resultados alentadores. Seguem receitando os mesmo remédios que causaram o mal vivemos hoje: mais livre comércio, mais desregulamentação.

Por isso, os movimentos sociais convocam um dia de manifestação contra as medidas propostas pelo G-20 para o próximo 28 de março, às vésperas de sua próxima reunião em Londres. Nosso desafio, como movimentos sociais, é propor soluções que respondam às necessidades concretas das pessoas que perderam seus trabalhos, casas ou que viram diminuir seu acesso a alimentos e, ao mesmo tempo, apontem para uma nova ordem. Entre essas se destacam:

A redistribuição da riqueza entre as classes sociais, entre as mulheres e homens, entre etnias e sociedades. O aumento dos salários e rendimentos de trabalhadores e trabalhadoras permitirá que o consumo popular funcione como um motor do crescimento em substituição do super-endividamento. Há também a proposta de uma renda mínima mundial e um teto para os rendimentos de modo que a enorme desigualdade de renda diminua.
Desinflar o capital financeiro: nacionalizar os bancos, favorecer cooperativas de crédito, realizar auditorias e renegociações das dívidas públicas, acabar com os paraísos fiscais.
A democratização do Estado e das empresas, com participação e controle popular e a garantia de políticas públicas. Liberdade de organização, igualdade e solidariedade.

Além disso, consideramos a necessidade urgente de superar a destruição ambiental causada pelo modelo de produção e distribuição e pelas guerras. Nossas propostas são no sentido de afirmar a Soberania Alimentar e Energética, de fortalecer a agricultura camponesa, a pesca artesanal, os mercados locais e o questionamento do padrão de consumo, o que implica a diminuição do consumo dos ricos e a melhora das condições dos pobres.

Boletim da MMM Internacional - VOL.12 NÚMERO 1 - MARÇO 2009